São exatamente 22:43 e não conseguirei dormir até que meu estado volte ao normal. Se é que eu entenda o que é ser normal.
Dentro de mim algo grita: TENTE, TENTE, TENTE!
Mas eu sei que as coisas não dependem só de mim, nem do terreno em que
me encontro. Sempre achei que a vida não tinha seu lado ruim, mas ele se
chama TENTAÇÃO. E se não conseguir controlar isso posso levar tudo por água abaixo.
Às vezes me sinto como um animal preso dentro de uma jaula, que fica a
andar de um lado para o outro sentindo que seus instintos estão
reduzidos apenas a quatro paredes. Estou numa cidade em que as
possibilidades de fugir se encontram minimizadas e em consequência
disso o animal dentro de mim se encontra possibilitado de praticar seu
instinto de predador. Mas quem eu quero enganar? Esqueça.
Entrei hoje pela manhã na cafeteria que sempre costumo frequentar.
Entre doses de café e colheres que fazem círculos dentro de xícaras, eu
via os olhos daqueles que me encaravam. Não consigo pensar como alguém
pode se prender dentro de si mesmo, enjaulando seus desejos e vivendo de
uma forma limitada. E como muitas vezes, religião, paradoxos
conceituais ou a tentativa de ser “alguém correto” serve como um escudo
para aquilo que muitos chamam de “Caminho incorreto”. Caminho incorreto
para mim é viver sendo quem você não é, sendo aquilo que a sociedade
quer que você seja, preso a fios invisiveis de uma linha de controle e
poder.
Agora eu escrevo exatamente dessa cafeteria,
sentado nessa pequena mesa, nessa pequena cidade, rodeado de olhos que
me observam buscando controlar o impulso que os prende dentro de si
mesmos. E tudo não é uma utopia. Procure o significado de distopia e
você verá que aos poucos estamos nos encaminhando para isso. Um futuro
próximo que está prestes a acontecer.
Alguém esbarra em meu
ombro e pede desculpas, esse mesmo alguém se perde em seu mundo e uma
tela reduzida de cristal touch screen. Por trás dessa tela as coisas
tomam formas, se obtém poder de conquista, nos sentimos confiantes o
máximo para não nos importarmos com as culpas que pode cair sobre nós ao
saber quem somos.
Mas o conceito se perde.
A estrutura tende a desabar.
Seu espaço é invadido.
E não há mais solução.
Qual a verdadeira assimilação do estado de embriaguez com o
poder de criar situações? Muitas. Inclusive a de se imaginar nas mais
inusitadas situações que sua mente - presa a um impulso não satisfatório
- possa imaginar. Lembro-me exatamente daquele noite em que sai com
meus amigos para uma festa da qual a minha expectativa era que pelo
menos eu pudesse viver algo do qual necessitava ser extrapolado. Lembro-me dos desejos, das pessoas, dos fatos que esbarravam em mim
mostrando o quanto o destino não estava preparando nada ao meu respeito.
Hoje eu começo a rir com tal fato enquanto leio aquilo que narrei.
Cheguei em casa com um impulso de escrever descontroladamente, mesmo que
não tivesse nada em mente, mesmo que não saísse nada, mas eu precisava
escrever, precisava tirar de dentro de mim aquela vontade de descontar
nas palavras o que não consegui na ocasião em que me encontrei. Se você
ainda não entendeu posso resumir em poucas palavras: PLANOS TRAÇADOS INCORRETAMENTE, O IMPULSO NÃO CONTROLADO E NÃO REALIZADO.
Abri meu bloco de notas e comecei a digitar freneticamente como se
aquilo fosse um remédio para aliviar minha frustração. Quando começo a
escrever é sempre assim, nesses momentos em que me acho na expectativa
de que escrevendo estarei tirando problemas da minha cabeça e quem sabe
com isso realizando meu papel de escritor para o mundo. A maioria dos
meus trechos são assim, passagens de momentos dos quais eu vivi
intensamente não importando meus estado atual de lucidez.
Hoje eu olho para trás e penso se o que eu fiz, se o que
eu deixei de fazer, o que eu escrevi e se as pessoas, aquelas mesmas que
me encaravam e escondiam seus instintos dentro de suas covinhas rosadas
não são o ponto chave para a revolução que acontece dentro de meu
âmago.
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