quinta-feira, 1 de maio de 2014

Beijo (Errata) #ProjetoPerceu Nº 23

         
Obs: Esse texto foi postado anteriormente e devido ao fatos ocorridos, foi preciso ser restruturado. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. Todos os fatos e descrições são frutos fictícios e são de responsabilidade do autor. 

            Olhei para seus olhos, como muitas vezes eu já tinha olhado, mas as coisas eram diferentes agora. Ou imaginei que olhava para dentro daquela imensidão, porque metade de mim queria que aquilo fosse real e a outra metade suplicava para que eu pudesse estar em casa, longe de tudo e de qualquer coisa. Diante de mim uma boca suplicava em ser beijada, não era necessário palavras para que eu pudesse compreender. Eu olhava e de uma forma simples e minimamente pessoal eu sabia o desejo, a pele, o calor. Conseguia sentir o hálito quente e adocicado do último gole do vinho que havíamos provado logo cedo enquanto dizia palavras sem sentido em meu ouvido. Dizendo palavras confortáveis, como para que tirar a tensão que existia entre nós. Sempre disse a você que devíamos ser mais íntimos.Sempre passava em minha cabeça a possibilidade de haver algo entre nós.Como assim? Nunca imaginei você me dizer tais palavras. Idiota, Idiota! Talvez eu tenha gritado mentalmente mil vezes essa palavra para mim mesmo no vazio de minha cabeça.  Não culpo minha bebedeira pelos atos que aconteceram, mas os meus instintos eram maiores do que minha sensatez e puritanismo.
             Uma mão forte me agarrou, primeiro me tirando da multidão e arrastando-me para um lugar estreito que hoje não poderia mais distinguir que lugar fosse aquele e depois me puxando para perto, onde o aperto que quase me deixou sem ar foi o suficiente para sentir algumas coisas a mais. Tentei me concentrar na parte de cima, na boca, que me encarava e pronunciava palavras desconexas que mesmo que eu entendesse não significariam nada ao que se passava em minha cabeça. Além disso, eu podia ver os outros contornos, uma sobrancelha bem desenhada, olhos castanhos diferentes dos meus e impenetráveis, incapazes de saber a verdadeira razão daquilo tudo estar acontecendo. A mesmo mão que me puxou, agora descia por entre as minhas costas, provocando-me arrepios até a base da minha coluna. Talvez quisesse causar efeitos em mim, o que realmente foram notados, mas isso não significa nada. De certa forma sempre fui alheio a proximidades, ao contato de estranhos, não exatamente os estranhos que me excitavam, o que é esse caso.                 Mas aproximações representam metade daquilo que nos falta à compreensão. É como ser jogado montanha abaixo com a simples possibilidade que uma avalanche esteja ao seu encalço. Talvez a avalanche seja mais proveitosa que um par de olhos e um belo sorriso te incriminando para algo que você realmente deseja.
Mas eu pude sentir aqueles lábios juntos aos meus. Primeiro apenas um mero beijo, rápido e vacilante como se o contato dos lábios fosse o suficiente para provocar uma sensação contraria ao que era esperado.                        Depois veio o segundo beijo, rápido, mas ainda não tão rápido quando o primeiro, esse na tentativa de mostrar a mim que realmente eu queria aquilo mais que nunca.
             Mordi meus lábios. Salivei. Não consigo mirar nada além daquela carnosidade. Queria mais, queria mais apesar de não querer mostrar que queria aquilo.
             O terceiro beijo foi mais profundo. Mais molhado, uma vez que sua língua tentava se encaixar com a minha. Eu não conseguia respirar, queria apenas que o mundo acabasse ali, que minhas emoções se sobressaíssem aquele momento e que minha vida fosse extraviada para outra dimensão longe de todos os meus problemas e para bem perto daquele beijo. Meu corpo estava mais colado ao outro e conseguia sentir todas as reações que podia produzir somente com aquela dose. Aquele momento. Podia sentir a intensidade da pele mal cuidada em contato com a minha, os poros abertos, arranhando-me numa sensação de prazer e entrega.
              E o que eu podia fazer?
              Nada. Nada, porque aquilo simplesmente não aconteceu. E como teria acontecido se minhas próprias expectativas não tivessem sido as suficientes para trazer o que não podia ser idealizado.
              Tenho esse prejuízo intimo instaurado dentro de mim. Essa maldição de carregar em meu interior uma parte ínfima de cada pessoa, que me machuca e me deixa num estado de dependência que é impossível de ser controlado.
              Talvez eu conte uns três dias ou três semanas. E mesmo sendo doloroso tenho que admitir a mim mesmo que nada aconteceu. E que as possibilidades futuras estão fora dos planos arquitetados. As variáveis de aproximação se repelem num sentido diferente do que o meu coração estava acostumado a seguir. Três dias, três dias talvez sejam suficientes para que minha cabeça volte a rotação original de onde nunca deveria ter saído.
              Não tem nada a ser feito e nada deve ser desculpado. Apenas se tem que aguentar as conseqüências daquilo que escolhemos.
              Se me perguntassem algo, qualquer que seja eu responderia Vai tudo bem, porque somente se consegue fazer uma peça de teatro quando os atores estão ensaiados e prontos para os aplausos.
O artista sobrevive de aplausos assim como o conquistador sobrevive de atenção.